Afinal, quais são os riscos do Tesouro Direto?

Chances de o governo não honrar as dívidas são consideradas "remotas". E, mesmo que isso ocorra, sempre é possível imprimir mais moeda. (Pixabay)
Chances de o governo não honrar as dívidas são consideradas “remotas”, mas o prazo para resgate e a variação dos juros e da inflação podem trazer perdas ao investidor. (Pixabay)

Os títulos do Tesouro Direto estão entre os investimentos mais recomendados pelos especialistas. Com rendimentos melhores que os da poupança, os papeis chamam a atenção pelo baixo risco de crédito, mas isso não significa que estejam isentos dos riscos de mercado, que decorrem das variações dos juros e da inflação e do tempo que o dinheiro será mantido nas aplicações.

O medo dos investidores de que o país quebre e seja declarada moratória da dívida interna, um dos mais comuns entre os poupadores, é considerado remoto pelos analistas.

Isso porque os títulos são emitidos em reais. Logo, se for necessário, o governo sempre pode imprimir mais moeda para pagar os credores. Mas vale ressaltar que a prática tende a causar um efeito colateral: a alta da inflação — que afeta o rendimento dos títulos não atrelados ao indicador — e a possibilidade de as taxas de juros não acompanharem a alta dos preços no mesmo ritmo.

Outro motivo para o baixo risco de moratória é o fato de os papeis representarem um volume muito baixo da dívida do estado. Conforme o Tesouro Nacional, até o fim de abril de 2016 a soma era de R$ 2,799 trilhões, sendo R$ 2,670 trilhões (95,4%) relativos à interna e R$ 129 bilhões (4,6%) à externa, paga em moeda estrangeira. Deste total, apenas R$ 30,5 bilhões (1,04%) correspondem às emissões dos títulos do Tesouro.

“Nós temos grande controle sobre a nossa moeda e, no pior dos mundos, podemos refinanciar a dívida, porque sempre haverá um comprador interessado nela”, avalia o economista e analista de mercado da NeoValue, Alexandre Cabral.

Para ele, o único cenário possível de calote da dívida interna seria em caso de uma “recessão pesada” e extremamente prolongada, seguida pela perda total de confiança dos investidores.

O coordenador do curso de economia da Fesp, de Curitiba, Rodrigo Kremer, afirma que a Lei de Responsabilidade Fiscal, que veda a compra dos títulos pelo Banco Central — a não ser para refinanciamento — também dá maior segurança aos ativos, o que afasta o risco de crédito.

Riscos do Tesouro Direto estão ligados aos juros, inflação e prazos

Por outro lado, o rendimento dos papeis está sujeito à gangorra dos juros e da inflação. Cabral aponta que os prefixados, que têm o retorno definido no momento da compra, podem ser mais afetados devido à pressão inflacionária e uma possível manutenção da Selic por um prazo maior que o esperado, o que pode ocorrer caso as taxas de juros dos EUA subam no segundo semestre, por exemplo.

Kremer acrescenta que os títulos de inflação, como os atrelados ao IPCA, também podem oferecer rendimentos menores se os valores forem sacados antes do prazo de vencimento. “Qualquer pequena alteração na taxa de juros impacta na remuneração. A variação é capitalizada no longo prazo, mas se a venda do título for feita antes haverá uma maior exposição aos riscos de mercado.”

Corretoras são intermediadoras dos investimentos

Os riscos de perdas decorrentes de fraudes também são considerados baixos entre analistas. De acordo com o economista Alexandre Cabral, essa possibilidade é minimizada pelo sistema de compras dos papeis, que é feito pelo site do Tesouro.

O dinheiro dos aportes é custodiado pela Bovespa, que envia relatórios mensais por e-mail para o controle das aplicações. Com isso, as corretoras têm a função de intermediadoras financeiras entre os investidores e o governo.

Se você tem alguma dúvida sobre como investir com segurança e rentabilidade, não esqueça de deixar um comentário.

Texto publicado originalmente no site da Gazeta do Povo em 9 de junho de 2016.

Por que pouca gente aplica no melhor investimento de baixo risco do Brasil?

O Tesouro Direto acumulou em 2016 um aumento de 70% no número de investidores ativos (Foto: Pixabay)
O Tesouro Direto acumulou em 2016 um aumento de mais de 70% de investidores ativos (Foto: Pixabay)

Quando se fala em investimentos, o Tesouro Direto é quase uma unanimidade entre os consultores financeiros ao se tratar de segurança e rentabilidade. Mas, mesmo sendo a opção mais recomendada pelos planejadores, a ela continua atrás de outras aplicações, tanto em volume quanto em pessoas cadastradas.

Em dezembro de 2016, o número de investidores ativos do programa do Governo Federal para a venda de títulos da dívida pública foi de 401.799, o que representou um crescimento de 71,8% em 12 meses. Embora a alta seja expressiva, o total ficou atrás do registrado pela Bolsa de Valores, que apesar de oferecer um ambiente complexo e com mais riscos de perdas, fechou 2016 com 564.024 investidores ativos, segundo a Bovespa.

Ao se considerar o estoque (o resultado dos saques menos as aplicações) e o volume de investimentos, o Tesouro perde para concorrentes da mesma categoria e com retornos menores, como a poupança.

No ano passado, a caderneta registrou um estoque de R$ 662,7 bilhões – o menor desde 1995 –, enquanto o Tesouro ficou com R$ 41,1 bilhões até o fim de dezembro. A marca recorde representou uma elevação de 60,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas ainda está longe de alcançar os números do investimento mais popular do país.

Inovações ajudam a popularizar o programa

Desde o seu lançamento, em janeiro de 2002, o programa do governo federal apresentou inovações para atrair novos investidores. Em dezembro deste ano, o horário para a compra e venda dos papéis foi estendido das 9h às 5h do dia seguinte. Antes, as operações estavam restritas das 18h às 5h.

Além desta, outra inovação foi a criação de um aplicativo oficial do Tesouro Direto, que permite a realização das operações por meio do celular.

Mesmo com as novidades, para o sócio-fundador do Grupo L&S, Alexandre Wolwacz, a falta de educação financeira da população afeta a adesão ao programa. “O ideal seria que o Tesouro tentasse falar em uma língua mais acessível para as pessoas, mostrando como funciona e como é fácil aplicar nele. Quanto mais fácil, maior será a quantidade de investidores”, considera ele.

Alguns passos já foram dados neste sentido. No ano passado, o programa mudou as expressões “compra” e “venda” por “investir” e “resgatar”, que são mais próximas das usadas pelos investidores, e passou a oferecer um curso para os aplicadores que tiverem interesse na modalidade.

Mas, em comparação com a caderneta, por exemplo, o Tesouro ainda oferece um ambiente mais burocrático. Para ter acesso aos ativos é necessário ter uma conta em uma corretora de valores – que pode ser independente ou do próprio banco – e aguardar de um a dois dias para a aplicação ou o saque.

Wolwacz afirma ainda que as oscilações dos títulos, que são determinadas pela variação dos juros, da inflação e do prazo para o resgate, impactam na decisão dos investidores. “Quando há uma situação que aumenta a complexidade do investimento, mais difícil tende a ser a sua penetração. A poupança tem como grande atrativo a sua simplicidade, enquanto os títulos públicos passam por oscilações que causam uma certa preocupação nas pessoas”, finaliza.

Por que o Tesouro Direto rende mais que a poupança?

A razão para o Tesouro Direto oferecer ganhos maiores que a poupança está no fato de os títulos seguirem a variação da taxa básica de juros, a Selic. Enquanto a caderneta possui retornos entre 6,5% e 8% ao ano, o Tesouro Selic, opção mais conservadora do programa, segue a os altos e baixos da Selic, que hoje está em 13%.

Além disso, o programa tem um risco considerado baixo porque as emissões dos títulos são feitas em reais. Logo, caso o governo não possua recursos para liquidar as dívidas, existe a opção de imprimir mais papel moeda para honrar os seus compromissos.

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Texto originalmente publicado no site da Gazeta do Povo em 24 de janeiro de 2017.